08 setembro 2016

Digitais















Sua timidez pousou sobre a minha,
Leve e silenciosa como um canto.
Preguiçosa, demorou a se retirar.

As pontas dos dedos se acariciando
Tecendo desenhos nas costas das mãos.
Dos lábios nascendo um sorriso
E olhos que parecem sóis.

Nenhuma palavra expressa
O que não necessário comunicar.

A vida corre sem pressa
Quando ausente se encontra
O desejo de se desvincilhar.




08 setembro 2015

Empréstimo

Das pessoas com quem se convive,
A elas algo é dado e algo roubado.
Um empréstimo se assim preferir
Ou roubo, rapto ou assalto.

Este "o quê" assim capturado,
Algumas vezes é um disco, um livro,
Uma música, um momento, um beijo.
Mas não somos o mesmo rio, depois
Isto é incômodo e certo.

Há os de quem peguemos uma gripe
Um meme, um dengo ou dengue.
E os quem de nós roubam a solidão
O sossego, a paz, o coração.

Tem os que ficam a dever dinheiro
As que nunca retornam uma explicação
Os Amores de Janeiro,
As amizades de verão.

Alguns empréstimos perduram,
E com estes, a pergunta:
Se de nós com algo ficaram
Estes estranhos, agora, quem serão?






30 agosto 2015

Embate

Afiaram-se as palavras
Ferindo a ferro e fogo.
Açoitando de verdades
nunca dante imaginadas.

Chamaram-se por nomes
Feios, tortos, rotundos.
Trocaram-se farpas infames
Sangrando a cortes profundos

Sem as barreiras educadas
Vomitaram-se as frases,
mesmo as mais tímidas
até então silenciadas.

Da peleja não saiu sangue.
Saiu Arthur, esbravejando.
Não se bateram na noite
Nada além do que portas.

Lilian sem pestanejar
Gritou ainda da janela
antes de atirar o vaso
"Pode ir! Não faz falta!"


29 outubro 2014

Classificação

Algumas pessoas são Inverno.
Infernalmente pragmáticas e racionais.
Frias, distantes, profissionais
Do tipo que não se compromete jamais.

Outras são Outono.
Levadas aos ventos, ao esmo
Leves como folhas, especiais
Mas do que falávamos mesmo?

Algumas pessoas são Primavera
Trazem o coração em pensamento.
Fazem de cada dia e momento
Flores, perfume, deliciosas.

Outras são Verão.
Acaloradas, iluminadas, energéticas
Sonhadoras incorrigíveis, esperançosas
Com risadas iluminadas
E, que calor, para lá de gostosas.

03 outubro 2014

Entropia



Esvaziam-se do vidro, os grãos
No abismo do tempo.
Faz-se no deserto, o castelo.

Não é outono, mas caem as folhas.
Uma a uma, dia a dia,
da parede de azulejos
no abismo até o chão.

Rodopiam as flechas
Enroscam-se em um bailado
Fugindo por entre os dedos.

Não te vejo faz tanto
que me falha a vista.
Já não escuto tua voz
E me faço surdo para as demais.

Quem é você?
Quem eu era quando
me perdia junto a ti?

Minha memória,
outrora tão pródiga,
agora é uma adaga aguda,
me ferindo sem perdão.

29 setembro 2014

Assassina Cereal

Teu sorriso me faltou hoje.
A cara amarrada me deu um nó.

Meu humor matinal nem sempre
é lá muito digno de nota

E gentileza, de minha parte,
nem sempre é farta à mesa.

Mas não me esfaqueie
com a faca de margarina.

Nem me enforque
com o pano de chão

De presunto, basta o que tem na geladeira
E eu não presto para decoração.



28 setembro 2014

O Luto de Berenice

Enebriante desce a noite,
vestida por Berenice.
Escada abaixo, com quadris
que chacoalhavam o mundo.

Ela olhou para e através
de cada um dos presentes.
Cada gesto, cada olhar,
lábios abrindo-se macios para o mundo.

Berenice ascendeu com um cigarro.
Subitamente, os outros é que ficaram sem fôlego.
As conversas circulam pelo salão
Em torno de Berenice a multidão orbita.

Com uma crueldade ímpar,
distribui gestos de afeto.
Cada vitima goza em prantos
sua graciosa maldição.

Ela me persegue a todo instante:
Em olhares não dados,
Em sorrisos ignorados,
Em seu riso afetado.

Amar é morrer, um pouco,
mas amar Berenice
é pura morte, caos e destruição.
Meu coração grita no peito.
Berenice... veste o pranto.