05 maio 2010

Escrevendo Poemas de Amor


Quem nunca se apaixonou? Quem nunca teve aquele sentimento sublime de ver o rosto da pessoa amada em todos os lugares, como na lua, na rua ou na mancha de quétichupi na gola do seu irmão? Quem nunca teve sonhos molhados ou foi pego pelo giz arremessado pelo professor com aquele ar de idiota, pensando em alguém amado (ao invés de responder a pergunta feita em sala de aula)?

Sim, Amar é andar na rua achando que todos na rua prestam atenção em você e invejam sua felicidade, é acreditar que olham através de você procurando descobrir seus segredos, que a musica do rádio foi escrita para lhe dizer algo e que o locutor falava para você aquelas palavras no rádio, que uma voz lhe dirá aos ouvidos o que fazer a todo momento, porque você é especial por amar. E sim, amar é mesmo um pouco parecido com paranóia e esquizofrenia.

Em suma, amor é um sentimento que mexe com a gente, capaz de nos fazer capaz de atos sublimes, como enfrentar filas enormes para comprar um maldito ingresso de cinema, ou de trocar um pneu no meio da chuva para ELA, ou de, com muito custo, parar de ligar bafejando na casa dela às três da manha quando o pai dela nos ameaça com o advogado DELE.

Mas este sentimento é capaz de fazer uma outra coisa conosco, nos transforma em monstros, capazes de um tipo de ato vil que nem mesmo um presidente americano seria capaz: Nos transforma em POETAS.
O mal nome que a poesia tem se deve a estes atos vis, esta capacidade inominável de que todo ser apaixonado cultiva por um outro ser vivo de tentar transpor em palavras e riam aquilo que sente.

Evidentemente existem honradas exceções, pessoas iluminadas pelo dom da palavra que realmente fazem bom uso da poesia, mas me refiro aqui aos restantes bilhões de sujeitos, em geral saindo da puberdade, cheios de testosterona e dotados de uma coisa levemente parecida com “bom gosto” e “Tendências Genocidas”. Me refiro aos cavaleiros das penas, lápis e teclados soltos pelo mundo afora que são dotados, magicamente, de impulsos criativos dados por musas no mínimo cruéis.

Nenhuma musa te prepara pra quando a garota te dá um fora, ri da sua cara ou vomita em cima de você (o que em algumas sociedades é uma forma delicada de dizer que achou o que escreveu um pouco ruim). Musas são criaturinhas pervertidas, isso sim. E pior, não querem me dar um a camisa nova de jeito nenhum. Aliás, Lacanianamente, podemos simplesmente dizer que “não querem dar para a gente de jeito nenhum”.
Ah, as musas...

Mas vejamos um exemplo prático de poesia selvagem:

Meu coração por ti retumba
Na profunda tumba de minh´alma
Cada batida de meu sofrido coração
Ecoa teu nome, reflete minha solidão.

Fico vesgo todo dia
Ao te veres na rua passando
Assim, faço uma careta para que sorria,
E sua formosa imagem vou duplicando.

Uma característica comum em casos assim é usar a segunda pessoa, mesmo quando o cara não sabe usar um tempo verbal decente, muito menos quem é essa tal “segunda pessoa”, já que ele só uma.
Também o tom dramático é algo utilizado em grande escala. Coisas como “Sofrer”, “morrer”, e outros xiliques histéricos são comuns mesmo entre os mais másculos apaixonados que escrevam poesia. Amor permite tudo, este nosso abençoado momento de loucura socialmente permitido.

Quantas vezes já nos colocamos na deprimente situação de escrever poesia em momentos de enamoramento de alguém? Por quantas mal-traçadas linhas já distribuímos nosso desejo artístico de reconhecimento sublime e obrigamos gentis donzelas a agüentarem nossos impulsos poéticos ?
O adolescente apaixonado não é um ser adorável, não é um anjo de elevada candura. Ele é um sádico, e exerce seu sadismo escrevendo poesia romântica.

“Amar. Verbo intransigente e emotivo.
Droga dos escritores, dos loucos,
dos amantes, dos brancos e dos cabloucos.

Amor, esta sublime palavra,
Este som que gritamos roucos
nos nossos corações
fazendo-nos calar.”

Viram? Fazer poesia é fácil. O difícil é fazer BOA poesia.

Qualquer um, principalmente quando está com dor de cotovelo, pode fazer poemas. Ou algum idiota com insônia armado de um blog de poesia.

Rimar “mulher” com “qualquer”, Calor e Amor, Pamonha com Sorocaba, lé com cré, ou qualquer assassinato do bom-gosto do gênero, é uma tarefa simples e indolor (pelo menos pra quem escreve). Não que advogue contra o saudável hábito de escrever. Pelo contrário, acho ótimo que tenhamos repentes de escritor. O que me assusta é a nossa incapacidade de percebermos, quando estamos enamorados ou tentando ficar de alguém, de perceber como nossos poemas são de doer.

Amar é bom, não me restam dúvidas, mas o problema de se ficar embriagado de amor, meus amigos, é a ressaca desgramenta que isso dá. Se amar estiver vontade de gritar a plenos pulmões, vá em frente. Só não escreva poesia ruim.

Nós, péssimos poetas, não deveríamos fazer isso sem autorização por escrito.

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