04 maio 2010

Minha História Para Esquentar Seus Coraçõesinhos...



Escrevi essa bobagem uns anos atrás.
Só pra avisar, nada do que está abaixo é verídico (jé me perguntaram meia dúzia de vezes). Acho que fui sutil demais.

Minha História Para Esquentar Seus Coraçõesinhos...

Tenho especial apreço por histórias de pessoas que se recuperaram de acidentes graves. Certa vez, após um sério acidente que prefiro não comentar, fiquei com quase todo o meu corpo imobilizado, em uma situação de dar pena, mesmo.

Minhas pernas? Não mexia...Meu tronco? Não sentia...Do meu pescoço para baixo era incapaz de saber algo. Alis, do pescoço para cima também.
Eu explico: Por causa do acidente que tive (e que por hora prefiro não entrar em detalhes) nada podia perceber da nuca para baixo. Aliás, apenas me comunicava com o mundo através de puxões e enrugamentos do meu coro cabeludo (uma situação muito, mas muito difícil, como você leitor sensível deve compreender).
Como uma Helen Keller* moderna, apenas podia notar e me fazer notar pelo mundo através de um conjunto limitado de sentido. No entanto estava vivo, apesar do terrível episódio que originou tudo isso e que, bem, ainda não me sinto disposto a discutir em público, por medo de me expor ao ridículo. O leitor sensível há de compreender, imagino.

Demorou muito tempo para que eu me apercebesse desta realidade. Apenas um leve roçar de pano por sobre meus pêlos cabeçais, ou uma pressão mais forte deste ou daquele lado me indicavam o que eu já desconfiava: sim, meus amigos, apesar da triste sombra que se ergueu sobre minha alma no estranho e depressivo dia do surgimento de minha situação, eu permanecia vivo!

Talvez não pareça muito a você sujeito que lê minhas palavras, imaginar o quão bom é uma descoberta assim. Você que acorda todos os dias de sua vida se indagando:”estarei eu vivo nesta nova man que vem me trazer os primeiros raios do Sol?”, e que sonado e meio sonâmbulo se apercebe que, sim, está vivo! Seus dedos mexem, seus pés coçam, sua barriga se enche e se esvazia com o ar passando para dentro e para fora de você, e sua esposa resmunga algo indecifrável e se vira para o lado e dorme. Mas sim você está vivo. E provavelmente continuará por inúmeras manhas despertando assim, até que não esteja mais vivo e daí, não mexer os pés vai ser a menor de suas preocupações.

No entanto, para mim, que vivenciei um episódio de grave risco de vida e sobrevivi, digo que esta descoberta há de ser das mais maravilhosas do universo.E na manha que me descobri vivo, quanta alegria, que gozo intenso ao me saber possibilitado de mexer uma parte ínfima, mas relevante, de minha própria prisão carnal.
Sabia que se mexesse o meu abençoado couro cabeludo por tempo suficiente alguém acabaria por notar, em pouco tempo, a novidade e alguma esperança de vida novamente poderia me encher de júbilo e aquecer meu coração com contato humano, outra vez.
Assim, passei a praticar diariamente , no princípio com certo esforço, mas posteriormente com desenvoltura e elegância a musculatura correspondente. Sentia a pia matter se recostando na duramatter e ambas envoltas pelo tecido aracnóide, indo e vindo, indo e vindo, cada vez com mais força. Que gozo sideral!

Demorou apenas uns três anos e um toque se fez sentir a cada mexida que dava, a cada repuxão um belisco ou carinho ou pressão correspondente. Alguém sabia que eu estava lá. Descobri mais tarde, que a pessoa que tanta atenção me dedicou era minha futura esposa, Abgail, a doce, que tanta atenção dava a face de um desconhecido semi-inconciente.

Ah, Abgail, como te amei naquele dia, e como te amaria fosse você uma Elizabete, uma margarida ou um Janjão. Doce Abgail, este relato é para você.
Me sabendo de alguma forma recompensado por meus esforços, me empenhei ainda mais em minha atividade capilar, exercitando a cada manha , a cada tarde e a cada noite mais e mais minha habilidade, meu único passatempo.
E consegui estabelecer, em questão de dias,um complexo sistema de comunicação com Abgail, isso é importante, onde cada pequena mudança, cada arrepio ou contração podia ter significados diversos como “leve-me-para-apanhar-sol”, ou “Erga-minhas-pernas em-um-ângulo-de-25 º “ com igual desenvoltura.
E a cada dia apareciam novos sensações corporais, novos pedacicos de meu corpo pareciam formigar para, lentamente, se tornarem novamente percebidos. Ò Celestial êxtase, que lindo foi o dia que consegui mexer e sustentar por 3 segundos todo o peso de meu dedo mindinho.

E assim, fui mexendo as falanges, uma a uma, os dedos dos pés, um a uma, a sobrancelha, o nariz, sempre em passos lentos porém com o sabor de conquista a cada uma destas pequeninas vitórias.
E voltei gradualmente a enchergar (primeiro pequenos borrões, depois toda a luz que entrava pelo quarto, a ouvir, a cheirar, podia começar, gradualmente, a movimentar as mãos, os pés.

Fui a cada semana pondo um novo músculo para funcionar, a cada mês fazendo movimentos com maior preci~soa e dextreza. O primeiro punho fechado, a primeira piscadela, o primeiro palavrão ao sentir que a cadela da Abgail havia apoiado seus cotovelos em cima das “jóias de família” (desculpe se a insultei, doce Abgail, mas sua lembrança junto de mim é tão agradável que mesmo momentos de agonia parecem, em retrospectiva, gozo celestial e êxtase eterno).
Assim me levantei, assim falei, assim me tornei novamente um homem.
Apenas com amor, com atenção e com muito empenho e sinceridade no coração me tornei alguém novamente.

Que estas palavras enluvem seu coração, que sejam como o beijo da pessoa amada (hnn Abgail, sua safadinha) e o hálito da primavera de sua vida.
E que nunca passem pelo tipo de situação embaraçosa como o acidente que causou tudo isso, mas que, me desculpem, já é tade demais para relembrar!
Qua a luz ilumine seus caminhos, afaste todas as dúvidas e transforme suas manhas em coisas bonitas!
Beijocas puras em seus corações!


* Como o leitor deve saber, Helen Keller era surda, cega e, por sorte, muda. Se falasse diria constantemente coisas como “Quem foi o F&&*¨¨¨&% que botou essa mer**& de Mesa aqui no caminho e não me falou??

** Foto obtida em http://fotocomedia.com/bad.gif

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